Além da Técnica: Habilidades Não Técnicas que Moldam o Cirurgião
No ambiente complexo e de alta pressão da sala de operações, a proficiência técnica por si só não é mais suficiente para garantir os melhores desfechos para os pacientes. Embora dominar as técnicas cirúrgicas seja essencial, as habilidades não técnicas (HNT), como comunicação, liderança, trabalho em equipe, tomada de decisão e consciência situacional, têm sido reconhecidas como igualmente importantes para o desempenho seguro e eficaz dos cirurgiões.
Neste post, vamos explorar a importância das habilidades não técnicas na cirurgia, com base em uma revisão seminal realizada por Yule et al. (2006), e discutir como essas habilidades estão sendo cada vez mais reconhecidas como componentes críticos da competência cirúrgica.
O Crescente Reconhecimento das Habilidades Não Técnicas
Tradicionalmente, o treinamento cirúrgico tem focado no aperfeiçoamento das habilidades técnicas. No entanto, estudos demonstram que as falhas nos aspectos não técnicos do desempenho, como a comunicação inadequada e a falta de trabalho em equipe, muitas vezes contribuem para eventos adversos na sala de operação. Por exemplo, Yule et al. destacam que falhas de comunicação foram identificadas como um fator causal em 43% dos erros cirúrgicos . Isso enfatiza a necessidade de integrar o treinamento de habilidades não técnicas junto com a proficiência técnica para melhorar a segurança dos pacientes.
Habilidades Não Técnicas Cruciais Identificadas para Cirurgiões
De acordo com a revisão, várias habilidades não técnicas são fundamentais na prática cirúrgica, incluindo:
•Comunicação: A comunicação clara e eficaz entre os cirurgiões e toda a equipe da sala de operações é crucial para garantir que todos estejam alinhados e trabalhando com o mesmo objetivo. A falta de comunicação pode causar atrasos ou erros durante a cirurgia.
•Trabalho em Equipe: Cirurgias bem-sucedidas dependem da colaboração perfeita de uma equipe multidisciplinar, incluindo enfermeiros, anestesiologistas e assistentes. Os cirurgiões devem promover um ambiente de confiança e abertura para otimizar o desempenho da equipe.
•Liderança: Como líderes da equipe cirúrgica, os cirurgiões precisam tomar decisões rápidas e precisas, além de orientar a equipe e gerenciar crises à medida que surgem.
•Tomada de Decisão: A tomada de decisões intraoperatórias frequentemente envolve alto risco e pressão de tempo. Os cirurgiões devem manter a calma, avaliar riscos e antecipar possíveis complicações.
•Consciência Situacional: Manter a consciência de todo o ambiente da sala de operações – monitorando o status do paciente, as ações da equipe e quaisquer mudanças na situação – é uma habilidade crítica que aumenta a segurança do paciente.
O Impacto das Habilidades Não Técnicas nos Desfechos dos Pacientes
As habilidades não técnicas afetam diretamente os desfechos dos pacientes, reduzindo erros e melhorando o desempenho geral na sala de operações. Yule et al. observaram que falhas de liderança e comunicação eram frequentemente a raiz de eventos adversos evitáveis . Ao cultivar essas habilidades, os cirurgiões não apenas melhoram seu próprio desempenho, mas também contribuem para um ambiente de operação mais seguro e eficiente.
Treinamento e Avaliação das Habilidades Não Técnicas
Apesar da importância reconhecida das habilidades não técnicas, a educação cirúrgica tradicionalmente tem dado pouca ênfase a elas. Yule et al. defendem a necessidade de um treinamento mais estruturado e da avaliação das HNT, incluindo o desenvolvimento de sistemas de marcação comportamental para avaliar comportamentos observáveis em áreas como trabalho em equipe, tomada de decisão e comunicação .
Em campos como a aviação e a anestesiologia, sistemas semelhantes já foram implementados com sucesso, e a revisão de Yule sugere que a cirurgia pode se beneficiar muito ao adotar essas práticas. Ao integrar o treinamento de HNT no currículo e fornecer feedback estruturado, os cirurgiões podem estar melhor preparados para as demandas da sala de operações.
Conclusão
À medida que a complexidade da cirurgia continua a crescer, também aumenta a necessidade de que os cirurgiões dominem as habilidades não técnicas. Comunicação, liderança, trabalho em equipe e tomada de decisões são essenciais para alcançar os melhores desfechos para os pacientes. Ao reconhecer a importância dessas habilidades e incorporá-las tanto no treinamento quanto na avaliação, a profissão cirúrgica pode adotar uma abordagem mais holística de competência, garantindo que os cirurgiões sejam não apenas tecnicamente proficientes, mas também altamente qualificados no gerenciamento da dinâmica mais ampla da sala de operações.
References
Yule, S., Flin, R., Paterson-Brown, S., & Maran, N. (2006). Non-technical skills for surgeons in the operating room: A review of the literature. Surgery, 139(2), 140-149.